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Mailson Matos Pereira: do sertão ao PROFMAT, a equação que transforma vidas pela Educação

Professor paraibano percorreu centenas de quilômetros durante anos para conquistar sua excelência na profissão e hoje inspira jovens talentos em Matemática mesmo longe das grandes cidades

Mailson Matos Pereira se tornou mestre em Matemática pelo PROFMAT e hoje é professor em colégio em Pombal/PB | Foto: Arquivo Pessoal

Entre trilhas de terra e madrugadas iniciadas antes do nascer do sol, estão histórias inspiradoras de professores que, movidos pela paixão pelo ensino, encararam rotinas desafiadoras para conquistar um sonho: a formação de excelência. No Programa de Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (PROFMAT), não é raro encontrar relatos de superação como o de docentes que viajaram diariamente por horas a fio para garantir sua presença em cada aula e concluir, com mérito, sua jornada acadêmica. Mailson Matos Pereira é uma referência de sucesso do programa coordenado pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM)

Do sertão paraibano, Mailson aprendeu que a estrada seria sua companheira fiel na busca pelo conhecimento. Acostumou-se a percorrer quilômetros diariamente, vencendo longas distâncias dentro do estado. A cada etapa — seja na graduação, especialização ou no mestrado  — sua determinação só crescia para se tornar um educador cada vez mais capacitado, capaz de transformar vidas por meio da Matemática. 

Após 17 anos desde sua entrada na graduação, o professor pode dizer que conseguiu mudar as ‘estrelas’ de centenas de alunos na Escola Estadual de Ensinos Fundamental e Médio (EEEFM) Arruda Câmara, em Pombal, onde é concursado. Muitos dos seus pupilos foram medalhistas em Olimpíadas nacionais, estaduais e regionais, além de outras competições, fruto do conhecimento passado pelo ‘prof. Mailson’, que se tornou muito mais didático e versátil após a experiência de três anos no PROFMAT.

“Foi uma virada de chave na minha vida. A forma como a Matemática é ensinada, a escolha dos conteúdos, tudo acaba sendo essencial para nossa formação. Eu me tornei não só um professor melhor em termos de conhecimento, mas também na didática no dia a dia”, reconhece o paraibano, que, nesse trajeto árduo e constante, memorizou, como quem conhece a palma da mão, as pegadas marcadas do caminho do berço até a sala de aula. 

Onde tudo começou

Mailson nasceu em 1989 na cidade de Pombal, a 370km da capital João Pessoa. Os pais viveram por muito tempo na zona rural, mas já haviam se mudado para a área urbana assim que o filho veio ao mundo. 

A mãe era auxiliar de serviços gerais e o pai exercia a função de guarda municipal, mas, nas horas vagas, também tinha uma banca de rede na feira. Foi neste ambiente que, talvez, Mailson tenha percebido que os números poderiam ser um caminho para seguir quando crescesse.

O paraibano completou sua graduação antes da hora para assumir cargo de professor de Matemática em escola pública | Foto: Arquivo Pessoal

“Meus pais sempre me motivaram a estudar bastante. E lembro que eu ajudava meu pai na feira. E como meu pai não tinha muito estudo, uma das coisas que ele me incentivou a gostar era de números. Ele gostava de ficar perguntando contas para que eu respondesse ‘de cabeça’. E eu me sentia motivado, como se quisesse vencer meu pai naquela disputa”, conta o paraibano, que até hoje, vira e mexe, volta à feira para ajudar o pai, hoje aposentado do serviço público.

Durante a infância humilde, é bem verdade que nunca faltou nada a Mailson. Seus pais conseguiram dar todo o respaldo para ele e sua irmã, que também teve a chance de concluir o período escolar. Mesmo apaixonado por futebol – torce pelo Flamengo -, os estudos sempre foram inegociáveis para o garoto, principalmente quando o assunto era Matemática. 

“Desde o Ensino Fundamental, eu tive uma aptidão pela Matemática, sempre foi a disciplina de que mais gostei. Achava Matemática mais interessante, mais desafiadora. A única dúvida é se realmente queria ser professor de matemática, até por ver os desafios que a gente encontra em sala de aula vendo meus mestres”, brinca Mailson, que, a princípio, não estava convencido de que ser docente poderia fazê-lo feliz.

A Matemática mudando a rota de Mailson

Só que a facilidade pelos números e contas o levou a ajudar os demais colegas no fim do Fundamental, depois no antigo ‘Colegial’ e até na graduação. “Comecei, assim, a ganhar um ‘dinheirinho’ que já me ajudava na manutenção dos meus estudos e essas aulas de reforço foram importantes antes de virar professor de escola”, avalia.

No vestibular, a escolha pela Matemática não foi, digamos, tão clara assim. Tanto é que Mailson foi aprovado na graduação em Ciências Exatas pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), no campus de Patos, município a 70km de Pombal. “Todos os dias, eu me deslocava de ônibus por volta das 17h até Patos, assistia às aulas e chegava em casa às 23h30”, detalha o paraibano sobre sua rotina diária. Isso sem contar que já trabalhava como professor durante o dia em um colégio de Pombal.

Durante o curso, ele já se acostumou com a rotina de ministrar aulas de Matemática. A partir do 2º ano, já assumiu a função de monitor em disciplinas de graduação na UEPB e, inclusive, no colégio onde trabalha atualmente durante o período diurno. No penúltimo ano da graduação, foi aprovado em concurso estadual em Pombal para iniciar as atividades no verão seguinte.

Hoje, os alunos em Pombal/PB são a vida de Mailson, que se orgulha da trajetória acadêmica graças ao PROFMAT | Foto: Arquivo Pessoal

Por isso, Mailson precisou pedir a antecipação da conclusão na graduação, direito do aluno previsto em lei. No mês de janeiro de 2012, ele defendeu sua monografia e ainda fez um curso de verão para eliminar as disciplinas faltantes. Tudo para poder tomar posse no concurso estadual, que também reservou uma peculiaridade. 

“Como meu curso era de Ciências Exatas, precisei do diploma original da UEPB. Por isso, precisei viajar a Campina Grande (sede da Universidade) para emitir o diploma e, depois, a João Pessoa para tomar posse no concurso. Daí, voltei para Pombal. Foi interessante, porque o meu diploma e a minha portaria têm duas horas de diferença de emissão. Eu consegui, digamos, terminar a universidade e assumir um concurso público no mesmo dia”, lembra o professor de sua saga de quase 750 km em um único dia. 

PROFMAT como trampolim para o sucesso profissional

Após a graduação, Mailson seguiu viajando para realizar sua especialização em Fundamentos da Educação também pela UEPB. Por meio de uma parceria com o governo estadual, o curso era oferecido de forma semipresencial em um colégio na cidade de Sousa, a 60 km de Pombal. A rotina diária de caronas e ônibus seguiu no estágio seguinte de sua capacitação: o PROFMAT, onde foi admitido em 2015.

O paraibano ficou sabendo do programa de mestrado através de um colega de profissão, que seria aprovado um ano depois. Em busca de novos desafios para se aprimorar ainda mais em sala, Mailson viajava, ida e volta, 500km toda sexta-feira (e por vezes, no sábado) de Pombal a Campina Grande, onde estava localizado o polo do PROFMAT na UEPB, isso sem mencionar a árdua rotina de trabalho em Pombal de segunda a quinta. 

Mas, quase uma década depois, ele reconhece que todo o esforço valeu a pena. O PROFMAT realmente veio para potencializar seu conhecimento em temáticas que não foram ensinadas durante a graduação. 

“Eu consegui aprofundar meus conhecimentos em Matemática no PROFMAT. Como meu curso era de Ciências Exatas, eu tinha estudado muito Física e Química e deixei de ver algumas disciplinas importantes de Matemática. E o PROFMAT foi uma virada de chave no sentido de conhecimento na área. A forma como é ensinado, a escolha dos conteúdos daqueles quatro primeiros módulos é essencial para um professor de educação básica”, confirma ele.

Para Mailson, o PROFMAT foi vital para se aprofundar em conhecimentos de Matemática na rotina como professor | Foto: Arquivo Pessoal

Hoje, na escola onde completou seu Ensino Médio, Mailson se considera realizado. Ele não apenas venceu os desafios impostos pelas distâncias e pelas viagens incansáveis, mas também ajudou a abrir novos caminhos para jovens que, como ele um dia sonhou, agora enxergam na Matemática uma oportunidade de transformar o futuro.

Cada aula ministrada, cada medalha conquistada por seus alunos, cada mente despertada para o raciocínio lógico são, para ele, recompensas que vão muito além de um diploma. São provas vivas de que valeu a pena cada quilômetro percorrido, cada sacrifício feito, cada noite mal dormida.

Hoje, Mailson é mais do que um professor: é uma inspiração para o sertão paraibano.

Publicado emNotícias