Com sensibilidade, método e formação sólida pelo mestrado profissional oferecido pela SBM, professor da rede pública do Tocantins leva a ciência a novos patamares em escolas nas zonas urbana e rural pelo interior do país
Aos 38 anos, Jairomar de Araújo Sobrinho é um dos milhares de professores brasileiros que, com dedicação e compromisso, fazem da Matemática uma ponte entre sonhos e oportunidades — especialmente onde os caminhos parecem mais estreitos. Professor da educação básica nas redes municipal e estadual do Tocantins, Jairomar faz parte de uma geração de educadores que vem transformando realidades a partir da sala de aula. Sua história é também a de muitos que, mesmo distantes dos grandes centros urbanos, acreditam na força do conhecimento como instrumento de mudança social.
Ele é um dos mais de 7.800 egressos do Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (PROFMAT), promovido pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) desde 2011. Ao longo da última década, o programa tem sido responsável por qualificar professores da educação básica em todo o país, fortalecendo o ensino de Matemática nas escolas públicas e contribuindo para a valorização profissional de educadores comprometidos com o seu papel.
A trajetória de Jairomar, construída com esforço e sensibilidade no interior do Tocantins, é um exemplo claro do impacto que uma formação continuada, acessível e de qualidade pode ter não apenas sobre um professor, mas sobre toda uma comunidade escolar.
Infância curiosa e fascínio precoce pelos números
Atualmente morador de Couto Magalhães — cidade do Tocantins onde cresceu, estudou e leciona até hoje — Jairomar nasceu em Conceição do Araguaia, no Pará, localizada a apenas 25km de distância e na fronteira entre os estados da região Norte. “Meus pais sempre moraram em Couto Magalhães. Na verdade, minha mãe foi apenas para ‘me ganhar’ em Conceição do Araguaia, por ser uma cidade maior, com hospital”, conta ele com simplicidade.
Filho único, cresceu em um lar onde a educação e a política se entrelaçavam. O pai, produtor rural, também exerceu funções públicas como secretário, vereador e até vice-prefeito do município. Já a mãe, professora da rede pública, teve influência direta na formação do filho — tanto no exemplo quanto no convívio diário com o universo escolar.
Desde cedo, Jairomar demonstrava uma curiosidade fora do comum. “Sonhava em ser inventor”, lembra com entusiasmo. “Tentava criar perfumes com fragrâncias próprias e até tentei interceptar sinais alienígenas!”. No meio dessas experiências criativas, havia sempre uma atração natural pelos números, padrões e desafios lógicos — uma inclinação precoce pela Matemática que, embora ainda em estado bruto, já anunciava a paixão que o acompanharia por toda a vida.
A descoberta da Matemática como paixão
A admiração foi se transformando em amor à medida que ele teve contato com professores especializados, no ensino fundamental e médio. “Acho que minha paixão pela Matemática foi acontecendo aos poucos, mas houve momentos marcantes. Foi quando percebi que a Matemática era mais do que contas — ela era lógica, raciocínio, estrutura. E isso me encantou”, confessa o tocantinense radicado.
Duas figuras foram determinantes no processo de se decidir por cursar Matemática: os professores Indalécio e Guilherme. Este último, inclusive, desempenhou um papel decisivo anos mais tarde, quando Jairomar enfrentava dúvidas sobre sua escolha profissional.
Após concluir o Ensino Médio, ele chegou a ser aprovado no vestibular para Enfermagem na Faculdade Guaraí (FAG) – “me inscrevi no embalo de uma prima que estudava lá e tentou me levar junto”, brinca. Paralelamente, iniciou um curso de Serviço Social pela Unitins, modalidade semipresencial em Couto Magalhães. No entanto, nenhuma das áreas o preenchia de verdade.
Entre dúvidas e certezas: a escolha pela Licenciatura
Foi então que veio o empurrão de Guilherme. “Ele acreditava no meu potencial e me sugeriu que prestasse vestibular para Matemática”, confirma. A sugestão caiu como um raio de lucidez — e, com o tempo, a escolha revelou-se certeira. Jairomar, então, ingressou na Universidade do Estado do Pará (UEPA), no Campus de Conceição do Araguaia, e se formou em Licenciatura Plena em Matemática, em 2009.
Desde o início da graduação, começou a lecionar. A falta de professores especializados em cidades pequenas abriu espaço para que, aos 18 anos, já estivesse diante de uma sala de aula. Em 2015, foi aprovado em concurso da rede municipal de ensino e, em 2023, já durante o PROFMAT, ingressou também na rede estadual do estado do Tocantins.
Educar com propósito: o projeto ‘Em Busca do Ouro’
Atualmente, Jairomar leciona em duas instituições de Couto Magalhães: a Escola de Campo Senador João Ribeiro (municipal) e o Colégio Estadual Archangela Milhomem (estadual). Em ambas as escolas, carrega sua paixão pela Matemática como ferramenta de transformação. Na escola da zona rural, desenvolve o premiado projeto ‘Em Busca do Ouro’, que prepara estudantes do 6º ao 9º ano para a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP).
Entre 2019 e 2024, os resultados do projeto foram expressivos: 11 menções honrosas, seis medalhas de bronze, três de prata e uma medalha de ouro, além de premiações para a escola e para o município. “Esse projeto representa, para mim, uma forma concreta de transformar vidas por meio da Matemática”, comemora Jairomar.
Foi também nesse contexto que ele acabou conhecendo o PROFMAT, incentivado por Helves Belmiro, um colega da educação básica e egresso do programa. “Ele sempre falava com entusiasmo sobre o curso e dizia que seria uma grande oportunidade para meu crescimento profissional”, detalha o professor.
PROFMAT: formação que transforma
Ingressou no programa da SBM em 2022 e concluiu o mestrado profissional em 2024. Para Jairomar, a experiência foi decisiva. “O PROFMAT teve um impacto muito significativo na minha atuação como professor. Ele me proporcionou uma formação mais sólida e me deu ferramentas didáticas para transformar esse conhecimento em aprendizagem real para os alunos”, explica.
A metodologia do programa e o aprofundamento teórico proporcionaram avanços concretos no projeto ‘Em Busca do Ouro’, especialmente na escolha de conteúdos, no uso de materiais mais eficazes e no acompanhamento dos alunos. “A Matemática é uma linguagem universal que nos ajuda a entender o mundo e a pensar com mais precisão”, avalia Jairomar.
Essa frase, que ele gosta de repetir, resume não apenas sua visão sobre a disciplina, mas também o legado que vem construindo em sua comunidade. Com sensibilidade, formação e compromisso, Jairomar mostra que, mesmo nos lugares mais afastados dos grandes centros, a educação pode ser um caminho real de transformação — e a Matemática, seu idioma mais poderoso.