Egresso do programa da SBM foi o único representante da Região Norte considerado um dos 10 melhores professores de Matemática do Brasil em 2024, façanha que levou paraense a fazer intercâmbio para conhecer um dos locais mais prestigiados da área em todo o planeta

O Programa de Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (PROFMAT) foi criado pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) para atender à crescente demanda por formação especializada na disciplina e contribuir para a melhoria da qualidade no setor de educação. Mais de 7.800 profissionais já foram impactados pelos benefícios do projeto que aguça a paixão por ensinar e viver do conteúdo matemático.
No caso de Romis de Sousa Moraes, o caminho para o PROFMAT foi determinado por influência de professores e até de familiares em meio à zona rural no interior do Pará. Alfabetizado pela irmã, ele soube valorizar suas origens em cada decisão tomada e sempre defendeu a educação como o pilar para a transformação social e da vida das pessoas, inclusive a sua.
Tanto é que, em 2024, Romis viveu a experiência mais enriquecedora de sua trajetória como docente. Medalhista de ouro da Olimpíada de Professores de Matemática do Brasil (OPMbr), o paraense ganhou uma viagem para conhecer o Centro de Educação para Professores da Unesco (TEC Unesco), em Xangai, na China. A nação asiática ocupa o primeiro lugar no ranking do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), principal avaliação da educação básica no mundo.

“Estou feliz em ter representado o Pará e muito feliz também em poder, a partir de agora, com a visibilidade que nós temos, fazer grandes práticas e exercícios para a educação paraense e para o Brasil”, relata Romis, ilustrando o que já trouxemos anteriormente: suas origens nunca serão apagadas.
Irmã como mentora na infância
Filho de lavradores, Romis nasceu em Conceição do Araguaia, município a 950 km de distância da capital Belém e próximo da fronteira com Tocantins. Como não havia colégios em sua comunidade na zona rural, ele precisou se deslocar para outra localidade do município para iniciar o processo de alfabetização.
Ainda no campo, o paraense foi aprender os conhecimentos básicos até a 4ª série (atual 5º ano do Ensino Fundamental) em uma escola seriada onde a irmã Luzeni era “tudo”, como relembra Romis. “Lá, Luzeni era a professora, era a merendeira, era tudo, só tinha ela de representante do governo. Ela fazia todas as funções e eu me mudei para essa localidade para estudar. Fui alfabetizado por minha irmã, que tinha estudado somente até a 4ª série da época”, revela o caçula da família, 17 anos mais jovem do que a irmã.
Assim que terminou a então 4ª série, Romis precisou ficar um ano sem estudar, já que não havia mais escolas da 5ª até a 8ª série (9º ano do Ensino Fundamental) na região e também não apresentava condições para frequentar um colégio na zona urbana. Ainda assim, já se destacava em sala de aula, especialmente em Matemática.

“Eu era um bom aluno, tinha as melhores notas em Matemática, mas eu tinha lacunas no meu processo de aprendizagem. Por exemplo, em Língua Portuguesa, eu era um bom aluno, mas o meu desempenho em avaliações externas, vestibulares e outras coisas, era bem aquém dos colegas de turma. Em Matemática, por outro lado, meu desempenho nas avaliações externas era um dos melhores, então sempre me desenvolvi melhor em Exatas, especialmente em Matemática”, confirma.
A Matemática como modo de vida
Mesmo com o apego pela disciplina, ser professor não era uma das aspirações de Romis na adolescência. Certa vez, seu tio o incentivou a estudar para a área, mas novamente o paraense criou resistência. “Eu realmente não queria ser professor, então nem dei muita moral para o que ele falou. Ser professor de Matemática era uma coisa que a sociedade desvalorizava tanto, então, confesso, naquele momento não foi minha escolha”, conta.
Entretanto, como Romis diz a seus alunos na atualidade, “mesmo que não tenha escolhido ser professor de Matemática, a Matemática e a docência me escolheram”. O município de Conceição do Araguaia oferecia uma alta gama de cursos voltados para a área de educação. E, pensando na meta de frequentar uma faculdade para posteriormente ser aprovado em um concurso público federal, o paraense entrou de vez para o âmbito universitário.
Em 2004, ele foi aprovado no curso de Licenciatura Plena em Matemática pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), no Campus de Conceição do Araguaia. Assim, Romis pôde ficar próximo de sua família enquanto completava a graduação. Em janeiro de 2008, após se formar, emendou nova aprovação, no caso, em concursos estadual e municipal para atuar na docência em Ourilândia do Norte, a 360 km de sua cidade natal.

Naquele ínterim, Romis queria trabalhar, porém não se via tão bom como professor, tampouco preparado para passar em concurso público federal. “Eu nem era um bom professor, nem tinha estudo para passar no concurso, porque não dava para fazer as duas coisas, trabalhando 200, 300 horas mensais, né? Então, resolvi estudar mais para ser um melhor professor”, recorda ele, lembrando da opção pelo PROFMAT para se tornar ainda mais capacitado profissionalmente.
Como o PROFMAT cruzou a rota de Romis
Assim que o programa foi criado, em 2011, Romis já tinha conhecimento da iniciativa da SBM. E ele ingressou no curso para estudar em Palmas, a 700 km de Ourilândia do Norte. “Tinha aula em Palmas toda sexta-feira, por isso tive que viajar 1.400 km, ida e volta, toda semana durante o curso”, conta o paraense, que levou cinco anos, em meio à pandemia de Covid-19, para se tornar mestre.
Para ele, as dificuldades em todo o processo no PROFMAT valorizaram sua capacitação como professor em sala de aula. Hoje, Romis se permite desmistificar a Matemática como uma disciplina complexa e de difícil aprendizado, desenvolvendo uma abordagem individualizada que atende às necessidades de cada um dos alunos.
“A capacitação que o PROFMAT te dá no sentido de ampliar os teus conhecimentos matemáticos é absurda. O curso me fez aprender Matemática, me fez estudar Matemática e pensar matematicamente como nunca tinha feito. Eu sabia Matemática, mas não tinha muito o que pensar ou como executar algumas ações. A faculdade não me deu o poder de aprender tantas demonstrações como o PROFMAT me permitiu. É um programa que cumpre bem o seu papel”, avalia o professor, que leciona hoje na Escola Estadual Dr. Romildo Veloso e Silva, em Ourilândia do Norte, onde está radicado há 17 anos.

A formação no PROFMAT possibilitou a Romis abrir seu leque de opções dentro e fora da sala. Em 2024, ele integrou o seleto grupo de 10 docentes medalhistas de ouro logo na 1ª edição da OPMBr, iniciativa apoiada pela SBM para selecionar os professores das redes pública e privada do país no conhecimento da disciplina.
Frutos do PROFMAT: conquista na OPMBr e a visita ao Oriente
Dos 10 vencedores – em meio a 600 professores que disputaram o evento inicialmente -, nove tinham histórias vinculadas ao PROFMAT. Romis defendeu sua dissertação em agosto e, dois meses depois, participou de um intercâmbio técnico e cultural de 15 dias para conhecer o TEC Unesco, na Universidade Normal da China, uma das mais conceituadas em Matemática do planeta.
Detalhe: ele foi o único representante do Norte do Brasil no grupo. “Foi uma felicidade enorme. Primeiro porque é uma realização pessoal muito grande, ficar entre os 10 do Brasil, sendo uma cidade do interior, do Pará, mas isso mostra uma força que nós mesmos, sendo do interior, podemos sim alcançar grandes êxitos. E esse foi um deles”, reconhece Romis.

Há quase duas décadas à frente de salas de aula, o matemático paraense se considera apto a aconselhar a nova geração de aspirantes para a área. Romis crê que o PROFMAT encurta caminhos para o sucesso acadêmico e profissional. Trata-se de uma importantíssima via para o aluno tomar rumo em sua carreira, com uma formação sólida e aprofundada em conteúdos diversos e bagagem suficiente para se preparar para desafios tanto na docência quanto em concursos ou demais programas de pós-graduação.
“Para quem não conhece o PROFMAT, está perdendo uma grande oportunidade de conhecer um programa maravilhoso que transforma o modo de enxergar a Matemática. É um programa em que os professores aprendem, trabalham e compartilham muito conhecimento. Ele nos fornece uma bagagem de conhecimento matemático muito grande. Todos deveriam fazer, pois impactaria o sucesso profissional de uma maneira inimaginável”, conclui um dos egressos do programa.