A matemática pode ser um bicho-papão para muita gente. Mas para quem tem a sorte de estudar com o Prof. José Gleison Lima da Silva, o aprendizado se dá de forma lúdica e atraente. E suas ideias renderam prêmio nacional. Como egresso do Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (PROFMAT), da Universidade Federal do Ceará, ele venceu o 33º Troféu HQMIX, o “Oscar dos quadrinhos” do Brasil, na categoria Dissertação de Mestrado, com o trabalho “Matemática Básica em Quadrinhos: Algumas aplicações das HQs em sala de aula”, feito sob orientação do Prof. Marcelo Ferreira de Melo.
O Troféu HQMIX é concedido em diversas categorias pela Associação dos Cartunistas do Brasil (ACB) e a solenidade de premiação ocorreu no formato virtual no último dia 27, com transmissão pelo canal do YouTube da unidade do Centro de Pesquisa e Formação do Serviço Social do Comércio (SESC), em São Paulo (SP).
A descontraída cerimônia teve apresentação de Serginho Groisman, padrinho do evento, e da dupla Gual e Jal, criadores do troféu “Bruxinha” – personagem da desenhista e escritora Eva Furnari, que foi esculpido pelo artista Wilson Iguti e entregue aos vencedores.
“Ser reconhecido pelo nosso trabalho é um estímulo para continuarmos lutando por transformar vidas, a começar pela nossa. É gratificante por levar esperança aos meus alunos, colegas professores e a todos que ainda acreditam na educação apesar da ignorância de muitos. Nesse contexto, a UFC me proporcionou uma formação sólida na qual aliei minhas aptidões para retribuir à sociedade o que me foi dado gratuitamente e com qualidade”, expressa o premiado.
QUADRINHOS EM SALA DE AULA – A dissertação de Gleison resulta de trabalho desenvolvido por ele em 2019 na Escola de Ensino Médio Santo Afonso, no bairro Parquelândia, em Fortaleza, onde leciona desde 2010. “Trata-se da produção de histórias em quadrinhos (no formato de tirinhas) com conteúdo matemático estudado em sala de aula. Eu aplicava esse projeto dentro das aulas tradicionais sem abdicar das exposições, exercícios, correções etc. Era uma ferramenta a mais para estimular o estudo da matéria através da arte e ajudar a tornar a matemática menos assustadora”, conta o professor.
No trabalho acadêmico premiado, ele também apresentou uma aplicação dos quadrinhos para divulgar a solução de um problema proposto por seu orientador, Prof. Marcelo Melo, mostrando ser possível o uso desse recurso em qualquer nível de conhecimento.
Na dissertação, Gleison abordou ainda a questão da “batalha desigual”, segundo ele, que os professores, principalmente os de matemática, enfrentam diante da diversidade de atrações ofertadas pela cultura de massa “via séries, filmes, livros e outras tantas maneiras de divertir que são muito mais atrativos às crianças e jovens do que estudar os conhecimentos ‘enfadonhos’ que a escola ainda tenta ensinar”.
Diante disso foi que ele propôs: “por que não usarmos essa mídia como nossa aliada? Por que não fazer dos quadrinhos nosso aliado na percepção de que nós somos seres matemáticos e por isso estudar matemática é também aprender a ser mais humano?” O mestre conclui a dissertação apresentando sua “proposta de divulgação da Matemática através das HQs tomando como exemplo as revistas da Turma da Mônica que ainda hoje são usadas para alfabetização e incentivo à leitura”.
O professor comenta que “é consenso entre muitos que a escola deveria ter mudado há décadas. Infelizmente, os professores e alunos não são ouvidos nessas mudanças. Basta ver a proposta do novo Ensino Médio que está sendo implementada de uma hora para outra de maneira impositiva e sem o devido diálogo.” Considera que há propostas interessantes, “mas que deveriam ter sido construídas com toda a comunidade escolar e não seguindo essa estrutura que ainda impera: as ordens vêm e nós devemos obedecer”. Defende, assim, um maior diálogo entre os conteúdos ensinados e a realidade. Entre a universidade e a escola. Entre a diversão e a coisa séria. Entre o prazer e dever…”.
HERÓIS NA ESCOLA – Na solenidade virtual, ao agradecer o prêmio, o Prof. Gleison Lima, bem-humorado, com camiseta e máscara de super-herói, expressou com emoção: “Eu não sou super, muito menos herói. Eu sou professor e nos últimos anos enfrentei muitas batalhas”. Revela que produzir a dissertação foi a mais fácil delas porque diz que teve o apoio de “gigantes que me colocaram em seus ombros”. E é a seus professores, familiares, amigos, companheiros de trabalho, amantes das HQs, da matemática e das linguagens, e, especialmente, aos seus alunos da Escola Santo Afonso que ele dedica o prêmio.
Agora, o Prof. Gleison segue sua jornada de ensino e divulgação da matemática, “escrevendo histórias ambientadas no universo dos meus alunos no qual a Matemática aparece de maneira orgânica, natural” e na peleja para fazer com que o projeto da sua revista Os Novos Pitagóricos saia no papel.
Reprodução: Portal da UFC